Our special thanks for today’s contribution go to Ana Maria Fontes! Not only did she discover an impressive individual and his moving letter to Louis Braille, but she also navigated the challenges of obtaining permission, so that we can now share these touching words with you today.
She also provided the English translation.
Another heartfelt thank you goes to Marco Branco, who generously gave us his consent to publish his moving letter – a gesture that deeply touched us and allows us to share these words with all of you.
Introducing the author of a letter to Louis Braille
Marco Branco was born in 1984. At the age of seven, on his way to school, a tragical accident with a lorry at high speed deprived him of his eyesight and hearing at the same time. He faced countless challenges, but his mind did not surrender. With the loving support of family and friends he learned how to use his remaining abilities so as to make up for his limitations. He never let go of his dreams. He is living proof that perseverance can overcome the hardest hurdles.
In 2014 he enrolled in a course for masseurs in an Association for the Visually Impaired, in Lisbon, in which his talent showed.
He was to become a well-known professional for his unique capacity to relate to his patients by means of his sensitive touch, for his healing skills and for the positive attitude he spreads around. He believes life is an adventure full of opportunities, no matter which ordeals may come our way. He has a 2-year-old daughter.
Letter to Louis Braille
My dear Louis,
Let me write to you as if we were old friends, though we’ve never met face to face. Every time we celebrate your birthday I feel I owe you so much that whatever I might say or do wouldn’t be enough to quit my debt. Only the weigh of my everlasting gratitude will!
When I went deaf and blind, the world became a soundless, shapeless desert. Silence was a wall I could not climb, darkness a heavy cloak that stifled my days. I felt forlorn, doomed into an island of emptiness in which my thoughts shouted but no-one heard them.
No-one, until I came across your alphabet. And there I discovered your light – a light that doesn’t shine in the eyes, but on the fingertips.
Louis, what you devised means more than a code for reading and writing; it means a map to come back to life. Through the dots you pricked line by line on paper, you restored worlds I thought I had lost forever.
When I started to touch your code, my hands trembled like a child toddling his first steps. It was hard to believe that something as simple as just six dots ingenuously combined could unlock such wide doors!
But there I was, disclosing words, grasping sentences, touching thoughts my predecessors have left.
Louis, you’ve given me stories back; what’s more, you’ve given me the chance to tell mine. Thanks to Braille my silence changed into communication, my darkness into sharing. Your dots enabled me to listen to words, despite my deaf ears; and to see the horizon of ideas, despite my blind eyes. These days, each page I read pays tribute to your courage, each book I touch means a hug I send you on the wings of time.
You, who at the tender age of three faced your own darkness, you did not surrender; you devised a gift out of it instead. You turned your own limitations into a lighthouse that was to guide all of us in future. You prove that human strength has no bounds and that adversity can cradle an immense deed.
Now, as my fingers glide along these words, I feel I am not alone. Braille is a bridge. You connected me to the world, to people, to myself. On January 4.th I don’t celebrate solely your birth; I celebrate your insight, your sympathy with those who, like you, couldn’t see the world in the traditional way any more. I am one of the many lives shaped by your genius.
Thank you, Louis,
For giving light to my darkness,
Sound to my silence,
And meaning to an existence I had deemed beyond repair.
Today, every single day, my gratitude will be eternal.
Yours warmly,
Marco Branco
Apresentação do autor de uma carta a Louis Braille
Marco Branco nasceu em 1984. Aos sete anos, quando ia para a escola, um acidente trágico com um camião acelerado roubou-lhe a visão e a audição ao mesmo tempo. Enfrentou inúmeros desafios, mas o seu espírito não se rendeu.
Com o apoio amoroso de familiares e amigos aprendeu a usar as faculdades que lhe restavam no sentido de compensar as suas limitações. Nunca desistiu dos seus sonhos: ele é a prova viva de como a perseverança pode superar os obstáculos mais difíceis.
Em 2014 matriculou-se num curso de massagista numa Associação para Deficientes Visuais em Lisboa, no qual revelou o seu talento. Tornou-se um profissional muito conhecido pela sua capacidade única de se relacionar com os pacientes por meio do seu toque sensível, pelas suas competências curativas e pela atitude positiva que irradia.
Acredita que a vida é uma aventura cheia de oportunidades, independentemente das provações que possam surgir. Tem uma filha de 2 anos.
Carta a Louis Braille
Louis,
Permite-me que te escreva como quem fala a um velho amigo,
embora nunca nos tenhamos cruzado em carne e osso.
Sempre que celebramos o teu nascimento, sinto que tenho uma dívida para contigo, uma que jamais poderia saldar com palavras ou gestos,
mas apenas com o peso do meu reconhecimento eterno.
Quando fiquei surdocego, o mundo tornou-se um deserto sem som nem forma.
O silêncio era uma muralha intransponível,
a escuridão um manto pesado que sufocava os meus dias.
Sentia-me perdido, condenado a uma ilha onde só havia vazio,
onde os meus pensamentos gritavam, mas ninguém os ouvia.
Ninguém… até que encontrei o teu alfabeto.
E foi aí que descobri a tua luz,
uma luz que não brilha nos olhos, mas nas pontas dos dedos.
Louis, o que tu criaste é mais do que um sistema de leitura e escrita,
é um mapa para regressar à vida.
Com os pontos que alinhavas no papel, reergueste mundos que julgava perdidos para sempre.
Nas primeiras vezes que toquei o teu código,
as minhas mãos tremiam como as de uma criança
que tenta dar os primeiros passos.
Era difícil acreditar que algo tão simples —
apenas seis pontos engenhosamente combinados – pudesse abrir portas tão grandes.
Mas ali estava eu, a descobrir palavras,
a sentir frases,
a tocar pensamentos que outros antes de mim haviam deixado.
Louis, tu devolveste-me as histórias.
E mais do que isso, devolveste-me a possibilidade de contar as minhas.
Através do Braille, o meu silêncio transformou-se em comunicação,
a minha escuridão em partilha.
Os teus pontos fizeram-me ouvir o som das palavras,
mesmo sem ouvidos,
e ver o horizonte de ideias, mesmo sem olhos.
Hoje, cada página que leio é um tributo à tua coragem.
Cada livro que toco é um abraço que te envio através do tempo.
Tu, que aos três anos enfrentaste a tua própria escuridão,
não te rendeste a ela.
Transformaste-a em dádiva, em invenção.
Fizeste dos teus próprios limites
um farol para todos nós que viríamos depois.
Tu és a prova de que a força humana não tem limites,
de que a adversidade pode ser o berço de algo imenso.
E agora, quando os meus dedos deslizam por estas palavras,
sinto que não estou sozinho.
O Braille é uma ponte.
Ligaste-me ao mundo, às pessoas, a mim próprio.
Neste dia 4 de janeiro, não celebro apenas o teu nascimento.
Celebro a tua visão,
a tua empatia por todos os que, como tu,
já não podiam ver o mundo da forma tradicional.
Fizeste do impossível uma realidade,
e eu sou uma das muitas vidas moldadas pelo teu génio.
Obrigado, Louis,
por dares luz à minha escuridão,
som ao meu silêncio,
e significado a uma existência que pensava perdida.
Hoje e todos os dias,
a minha gratidão será eterna.
Comovidamente,
Marco Branco
useful links:
Read all articles on: livingbraille.eu
Contact us with your contributions, ideas and questions by: braille200@livingbraille.eu
Social media: Braille 200 on Facebook